O impacto Hilda Hilst
A Obscena Senhora D, Fluxo-floema, Poesias, Teatro entre outras experiências hilstianas
em agosto de 2022 deu início a minha saga em ler toda a obra hilstiana
um devorar incontrolável
hoje na digestão deste impacto em mim,
este texto teve o início de sua escrita em 19 de maio de 2023
e reescrito agora.
fotografia expandida e ilustrada digitalmente, 2023.
I
O impacto Hilst anotei o dia 06 de maio de 2022, o dia em que os livros chegaram. é no Círculo do calendário que acompanho o tempo, o processo. Respirar para prosseguir o vivo-pulsante, aqui, ali. recusei pesquisar no google as fotografias da Casa do Sol (no início).
durou pouco… um dia inteiro no outro dedicado a stalkear a casa que estava “temporariamente fechada". usei o recurso do satélite, #hastags, fotos de residências artísticas, fotos de fotografia de cada instante pelo olhar de outra pessoa — pausa e movimento— faço um recorte desses olhores para caber no meu quebra-cabeça mental, escrevo “estes são os meus instantes sobrepostos aos outrosolhos”. editei relances de imagens e recriei um “Este vídeo-arte para dizer a mim mesma” sobre a experiência do vivo expelido por aquelas páginas abstratas…
inclassificavéis.
—bem, algo sem rompeu, escorreu um líquido espesso bordô, um barro-vermelho. corpus, carne o inefável sem esquecer o orifício.
desta Matéria abstrata um modelar de sentimentos argilosos, digo ardilosos em serenos espessos artefatos da busca mais recôndita, como que pôde aquele “unicórnio” da primeira experiência Fluxo-floema, depois chegar em Hillé me possuir em versões de uma estridente criatura mitológica tropical que pensa em língua portuguesa. Quando algo, assim, me ocorreu, rompeu, me dei um conto, prosa do impacto, a rachadura na parede, aquela abertura de carne e osso, por onde atravessa a luz-escura no meu rosto. a mancha daquilo “e meu negócio é com Deus" ela disse isso em entrevistas.
para aquele buraco “Eu recitei todinho o Fluxo-floema” “A Obscena Senhora D” “Cantares do sem nome e de partidas" “as aves da noite O visitante”
forma momentos em que fizeram extravasar em mim aquilo ali que desconheço.
sem nome
a busca de um…
II
dessas cercanias de mim, ousava segurar com as mãos empurrar, modelar o esparramado líquido espesso-bordô escorrido da parede. ela estava expondo o rombo
a ferida do Impacto aberta por detrás da minha roupa colorida.
A pele grudada no tecido, aquela meleca de ferida que expurga a dor,
o delírio de sentir, o pus.
Meu tempo naquele pulsar ficou reduzido na atenção do tecido grudado a ferida, se rasgo ou amoleço na água. Pusfétidopus, regorgita a exposta aposta de tentar na escrita alcançar o êxtase do corpus, por estar aberta aquela ferida de ter nascido. Sangue jorra, corta. A casca dura corrompe aquele dentro frágil, que escondia a Grande Pergunta Viva, não Morta. Deixei passar tanta coisa para não escrever e temer o escrito onde me doía. Uma sombra a casca dura grudada no tecido a esconder a ferida por dentro. ninguém vê,
entende?!
III
tinha a sensibilidade que não passava de Matéria, de pedra, aço e ferro fundido, um Impacto de tudo fodido no Escuro.
cita a revolução da Fibra ótica. os Postes no ritual de extrema-unção.
Tão sutis os sonhos, os efêmeros sentidos de realização, Olhe, não passam daqui
as perguntas, nem por isso do pedregoso vem o riso mais intenso, a desforra.
Esqueça. o sinal e os atritos da distância.
busque a Hilda, quando vir o oco.
IV
esperei passar por três anos
para dizer “não tenho mais sobre mim, o efeito do estado de paixão, de pertencimento daquela escrita"
poderia dizer “me iludi, ela me iludiu e me puxou as iscas e armadilhas de sua arte-palavra-vida entranhada na minha busca”
ou até mesmo “não teria feitiço tão extenso para cruzar ileso o seu efeito por três anos”…
veja, falo de ontem, de um sábado de manhã, onde acordei às quinze para as seis.
tento dormir, não consigo.
Algo me chama, tampo os ouvidos
penso “é sábado de manhã, vamos dormir mais, é sábado”
algo me chama na estante caminho até ela e paro em sua frente
retiro o volume II
“A obscena Senhora D” continua viva…
página-viva naquela fisgada por dentro com o nome de Hillé e aquele sagrado vão da escada.